A Real Fábrica de Panos, uma importante manufactura do Estado, foi fundada na Covilhã por D. José I, em 26 de Junho de 1764. A sua criação deveu-se à política de fomento industrial do Marquês de Pombal.
A manufactura da Real Fábrica, para além dos objectivos definidos pela política económica nacional, tinha por finalidade concentrar num mesmo edifício, construído de raiz, várias oficinas, que se encontravam dispersas pela Covilhã e se destinavam ao fabrico e ultimação de panos. A Real Fábrica de Panos foi construída para apoiar os fabricantes locais, principalmente em termos de organização e na realização das operações de tinturaria e acabamento dos tecidos. Serviu também para certificar a qualidade da produção, tendo ainda funcionado como escola de aprendizagem para crianças órfãs e abandonadas que, com idades compreendidas entre os oito e os doze anos, eram nela mantidas em regime de internato, ao mesmo tempo que aprendiam um ofício e constituíam mão-de-obra disponível.
A Real Fábrica de Panos foi planificada com um carácter monumental, facto atestado pelas dimensões, materiais e cuidados de edificação. O edifício era composto por quatro alas rectangulares que ladeavam uma praça central. As suas fachadas são encimadas por cornijas de granito e respeitam o mais característico “estilo pombalino”, pela sobriedade das formas e regularidade das aberturas.
O espaço interior foi planeado tendo em vista a sua funcionalidade: no primeiro piso, em redor da “praça de dentro”, foram construídos um pátio de entrada, uma casa para o porteiro, uma tinturaria dos panos em cor, uma tinturaria das dornas, dois corredores de serviço às tinturarias, uma casa para os teares grandes, uma casa para os teares pequenos e um corredor de entrada da casa dos teares (pavimentados de calçada), uma casa para o guarda dos panos dos fardamentos, uma casa para puxar estambre, uma casa para o mestre prensar, uma casa para a composição das tintas (lageadas); o segundo piso, na ala fronteira ao Chafariz das Lágrimas, destinava-se à instalação dos serviços administrativos, de que se salienta a Casa da Aprovação, armazéns vários, salas de fiação e ainda para alojamentos dos aprendizes em regime de internato.
Este espaço permaneceu como manufactura de lanifícios até ao último quartel do séc. XIX, tendo sido, a partir do ano de 1885, cedido pela Câmara Municipal da Covilhã, para instalação do Regimento de Infantaria 21, seguido do Batalhão de Caçadores 2, que ocupou o edifício até meados do séc. XX.
A partir de 1973, depois de numa das suas áreas ter funcionado a Repartição de Finanças da Covilhã, todo o espaço foi destinado à instalação do Instituto Politécnico da Covilhã, que se encontra na origem da Universidade da Beira Interior. No ano de 1975, durante as obras de reabilitação do imóvel, foram postas a descoberto estruturas arqueológicas que pertenciam às Tinturarias da Real Fábrica de Panos. Foram posteriormente, classificadas como Imóvel de Interesse Público, pelo Dec. nº 28/82 de 26 de Fevereiro.
O projecto de recuperação, restauro e musealização desta área foi elaborado pela Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial (APAI), tendo-se constituído deste modo o primeiro núcleo do Museu de Lanifícios, que foi inaugurado em 30 de Abril de 1992.
[Voltar]