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A Rota da Lã - TRANSLANA

Dos itinerários culturais europeus salienta-se, pela importância histórica e turística, uma rota que abarca tanto o percurso económico da lã como matéria-prima como o percurso turístico do património industrial dos lanifícios. Na Península Ibérica e em Portugal esse percurso passa, na região da Beira Interior, pela Covilhã, considerada o centro da produção nacional dos tecidos de lã, e são inúmeros os vestígios deixados por essa rota na região, desde o séc. XII até à atualidade.

No âmbito do Projeto Rota da Lã-TRANSLANA, através de um percurso histórico que une a Serra da Estrela à riqueza natural das onduladas planícies da Extremadura espanhola, partimos à procura das marcas da lã impressas na paisagem e na cultura dos homens que habitam este território de fronteira, ancorados por dois museus que constituem o início e o fim de uma via que reconhecemos ao longo dos caminhos que foi definido na paisagem e identificámos como a da Rota da Lã-TRANSLANA: o Museo Vostell de Malpartida de Cáceres e o Museu de Lanifícios da UBI, na Covilhã.

Esta rota, no séc. XXI, revitaliza o percurso dos negociantes de lã, que desde o séc. XVII até inícios do séc. XX, a calcorrearam.

Partindo do Lavadero de Lanas de Malpartida, cujo edifício está actualmente integrado no Museo Vostell, a lã era conduzida até à Covilhã, para garantir o funcionamento regular de diversas das suas fábricas, de que se salientava já, pela importância industrial de que se revestia, a empresa designada de Real Fábrica Veiga, edifício que constitui, actualmente, a sede do Museu de Lanifícios.

Pinheiro, Elisa Calado – Da lã aos lanifícios – No princípio é a lã...a cultura pastoril. 2006. p. 15

 

A Rota da Lã e o seu contributo

O atual desenvolvimento das práticas e políticas associadas ao turismo cultural tem contribuído para a definição e divulgação de um conjunto variado de itinerários culturais, no âmbito dos quais a Rota da Lã tem vindo a ganhar forma e contornos. Em 1987, o Conselho da Europa lançou um programa sobre itinerários culturais, o qual tinha objetivos de natureza turística, nomeadamente a melhoria da qualidade do ócio dos europeus, convidando-os a percorrer e a explorar os «caminhos reais ou imaginários em que, através da unidade e da diversidade, se forjara a identidade europeia», frase defendida por Michel Thomas-Penette, Conselheiro do Programa de Itinerários Culturais do Conselho da Europa (Universitat de Barcelona, 1996).

Esta é uma questão que tem dependido de um conjunto diversificado de objetivos relacionados com a dinamização do turismo, mas que, cada vez mais, procura restabelecer as continuidades perdidas ao longo do tempo em diversos espaços europeus, visando ainda a valorização dos produtos naturais e do trabalho artesanal. De várias das publicações levadas a efeito, a partir de 1987, sublinhe-se o Guia dos Itinerários Culturais das Regiões da Europa, onde a Região Centro de Portugal aparece caracterizada através, precisamente, de uma entrada intitulada «O Fio da Meada». Nela valoriza-se a definição de uma Rota da Lã, que clarifica, a nível do país, a situação geográfica privilegiada da cidade da Covilhã (Fernando Lozano Hernando, Guia dos Itinerários Culturais das Regiões da Europa, 1ª Ed., Barcelona, 1992).

A importância destas Rotas deriva ainda, como o sublinha Doudou Diène, Conselheiro da UNESCO, de elas serem concebidas como mecanismo de contacto entre povos e civilizações, concluindo que «a história e a cultura de cada povo são o resultado de um duplo processo dinâmico: processo de encontros, de contactos e de influências, mas igualmente processo através do qual estes contactos e influências se traduzem, graças a uma complicada alquimia, na construção de uma identidade específica» (Espanã y Portugal en las Rutas de la Seda, Publicaciones de la Universitat de Barcelona, Barcelona, 1996). Contudo, numa era caracterizada pela intensificação dos sistemas e práticas de comunicação, as rotas são hoje, sobretudo, os itinerários culturais de “cidadãos do mundo” desenraizados da sua matriz natural e ambiental, contudo em busca dos fios perdidos de uma identidade que urge preservar. Daí o interesse deste tema e o seu actual aprofundamento por parte das indústrias culturais e de turismo.

 

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