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O Museu de Lanifícios associa-se à celebração do

34º Aniversário da Universidade da Beira Interior

30 de abril de 2020

 

Os primeiros passos para a fundação da Universidade da Beira Interior foram dados em 1973, com a criação do Instituto Politécnico da Covilhã (IPC), que acolheu, em 1975, os seus primeiros alunos nos cursos de Engenharia Têxtil e de Administração e Contabilidade. Em 1979, converte-se em Instituto Universitário da Beira Interior (IUBI) e, em 30 de abril de 1986, em Universidade da Beira Interior (UBI). Esta data foi de tal forma marcante que passou a assinalar as muitas etapas de desenvolvimento da UBI e do alargamento das suas infraestruturas físicas. Alicerçada no forte impacto na comunidade e na região em que se insere, a UBI assumiu desde a origem um elevado compromisso com a salvaguarda e valorização do património industrial da cidade que a acolhe, através da recuperação de antigos edifícios industriais e da sua conversão em espaços vocacionados para o ensino, para a investigação e também para a cultura. Caso exemplar é o Museu de Lanifícios, cujos núcleos foram sucessivamente inaugurados no dia 30 de abril: Real Fábrica de Panos (1992), Râmolas de Sol e Centro de Documentação-Arquivo Histórico (1998) e Real Fábrica Veiga (2005 e 2011). É também este um motivo para o Museu de Lanifícios celebrar esta data tão importante para o seu desenvolvimento e recordar alguns momentos memoráveis no processo histórico de instalação da UBI e de recuperação de edifícios industriais na Covilhã.

O processo de instalação do IPC inicia-se na zona sul da cidade, junto à ribeira da Goldra, um dos núcleos urbanos com uma forte concentração fabril revelado num património edificado em avançado estado de ruína e abandono. Será, em 1973, que se iniciam as obras de recuperação da primeira fase de instalação do IPC, com a adaptação do edifício de dois pisos, situado em frente à Real Fábrica de Panos, de edificação pombalina, sobre o paredão que contém o Chafariz das Lágrimas, mandado construir pela Sociedade das Reais Fábricas da Covilhã, Fundão e Portalegre, no reinado de D. Maria I. Já a segunda fase das obras, inicia-se entre 1975-1976, na antiga Real Fábrica de Panos fundada pelo Marquês de Pombal em 1764, que serviu de Quartel até 1959 ao Regimento de Infantaria 21 e ao Batalhão de Caçadores. Foi precisamente neste período que, na ala sul, foram postas a descoberto as estruturas do período fabril, em pedra aparelhada de granito, que se designaram por “poços cilíndricos, fornalhas e caleiras” da Tinturaria da Real Fábrica de Panos. O processo de salvaguarda da designada “Tinturaria do séc. XVIII” culminou na sua classificação como Imóvel de Interesse Público, em 1982 (Decreto nº 28/82, de 26 de fevereiro), sob os auspícios do IUBI. Após a primeira intervenção arqueológica ocorrida em 1986, é criado o Museu de Lanifícios em 1989 e, entre esta data e 1992, decorrerá a segunda fase das intervenções arqueológicas, ambas sob a responsabilidade técnica e científica da Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial. As obras de recuperação arquitetónica e de musealização da área das tinturarias pombalinas iniciam-se em 1990 e será, em 30 de abril de 1992, que o Museu de Lanifícios é  inaugurado, sendo aberto ao público em 1996. Neste icónico edifício da cidade, para além do núcleo museológico da Real Fábrica de Panos, um museu de sítio, e de outros serviços de apoio da UBI, encontra-se também aqui instalada a Faculdade de Artes e Letras.

Nos anos 80 e 90 do séc. XX, as instalações do IUBI e da UBI foram sendo ampliados e igualmente reconvertidos outros espaços fabris construídos nas imediações da Real Fábrica de Panos e da ribeira da Goldra, onde agora funcionam a Faculdade de Ciências, os Serviços de Informática e outros serviços de apoio ao ensino, designadamente: Fábrica Real de Simão Pereira da Silva (sécs. XVIII-XIX), Francisco Roque da Costa Júnior [Fábrica de Mungos e Fábrica de Tapetes] (séc. XIX), Sebastião da Costa Rato e Álvaro Paulo Rato [Fábrica do Rato] (séc. XIX-XX). Neste lado poente da cidade, ainda se instalou a Reitoria no Convento de Santo António e os Serviços Sociais na Fábrica de Buréis do Convento (séc. XVII-XVII). Ainda em finais dos anos 90 do séc. XX e inícios do séc. XXI, foram recuperadas a residência da família Melo e Castro, grandes empresários da cidade, na rua Marquês d’Ávila e Bolama; a empresa de tecelagem Cristiano Cabral Nunes (séc. XX) destinada a cantina e refeitório, ambos os edifícios já inseridos na malha urbana; bem como os escritórios e instalações fabris das empresas de tecelagem, fundadas nos anos 30 do séc. XX, de José Paulo de Oliveira Júnior para instalação do Centro de Documentação-Arquivo Histórico dos Lanifícios do Museu de Lanifícios e instalações vocacionadas para o ensino prático e laboratorial, e de Manuel Maria Antunes Júnior para instalação dos Serviços Técnicos. No edifício da empresa de tecelagem João Bernardo Gíria (séc. XIX), junto à Real Fábrica de Panos e Real Fábrica Veiga, passa a ser ministrado o ensino teórico-prático da área das Ciências Farmacêuticas.Por seu lado, a marginar a ribeira da Goldra, na calçada da Fonte do Lameiro, estabeleceu-se a Faculdade de Engenharia na Empresa Transformadora de Lãs, Lda. (1920), com a sua fachada característica de Arte Nova da autoria do arquiteto suíço Ernesto Korrodi. 

Já na década de 90 do séc. XX, a UBI irá expandir-se para o norte da cidade, junto à outra ribeira, a da Carpinteira, onde passa a ocupar o complexo fabril da Ernesto Cruz, Lda. (1947) para instalação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas e outras dependências vocacionadas para o apoio ao ensino, e, posteriormente, o imponente edifício da empresa João Roque Cabral & Filhos (séc. XX), este para residência universitária. Também nesta zona da cidade, a UBI salvaguardou as râmolas de sol e um estendedouro de lãs da firma Ignácio da Silva Fiadeiro (séc. XIX), instituído como um núcleo ao ar livre à guarda do Museu de Lanifícios.

Ainda nos finais do séc. XX e inícios do séc. XXI, retorna ao lado sul, junto à ribeira da Goldra, com os projetos arquitetónicos da autoria do ilustre Arquiteto Bartolomeu Costa Cabral (n. 1929), e ainda irá recuperar e adaptar o edifício de Marcelino José Ventura, construído no séc. XIX para hotel, mas que serviu de armazém de fazendas, para instalação da Biblioteca Central da UBI, e, entre 2002-2004, a Real Fábrica Veiga, um edifício fabril fundado por José Mendes Veiga, em 1784. Este foi reabilitado e convertido no núcleo museológico da Real Fábrica Veiga - Núcleo da Industrialização e Centro de Interpretação dos Lanifícios, alberga o Centro de Documentação/Arquivo Histórico.

Cumprindo a sua missão de salvaguardar as memórias e os conhecimentos alicerçados na indústria têxtil, da cidade e da região, o Museu de Lanifícios encontra-se empenhado na preservação das memórias da UBI, que assumiu desde a origem um elevado compromisso com a salvaguarda e valorização do património industrial da cidade que a acolhe.

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Covilhã e UBI, 30 de abril de 2020